Série O Cabelo | Parte 1: Entendendo um pouco da Estrutura Capilar 3 de julho de 2017 – Posted in: Curiosidades

Os cuidados com os cabelos são uma preocupação constante para o homem e a mulher modernos. Desde os tempos mais remotos, a forma e a aparência dos mesmos indicavam se a pessoa era um guerreiro, um sacerdote, um rei ou um escravo. Hoje os cabelos podem indicar diversas características de cada indivíduo como um estilo clássico, radical, mais despojado, grupal etc. Podem também os cabelos revelarem o estado de saúde, a autoestima, além das aspirações individuais de elegância, liberdade e ações coletivas.

Aqui você poderá entender um pouquinho desse objeto de desejo que procuramos fazê-lo em três partes para melhor se adaptar às suas preferências:

Parte 1: Entendendo um pouco da Estrutura Capilar

Parte 2: Compreendendo um pouco o dano capilar

Parte 3: Cuidando dos cabelos

É bom salientar que ler sequencialmente, seguindo a ordem cronológica das partes, facilitar a sua leitura e poderá embasar esclarecimentos que podem ajudar você no entendimento.

Não se pretende aqui esgotar e nem tampouco aprofundar no tema “Cabelo”, pelo contrário, os esforços foram empregados para tornar a linguagem fácil e acessível e sem entrar na cientificidade com o risco de se tornar artigo técnico cansativo.

Porém, quaisquer esclarecimentos e sugestões para melhorá-lo serão bem-vindas através dos endereços constados nas páginas finais.

Boa leitura.

1.    Entendendo um pouco da Estrutura Capilar

1.1. Estrutura externa do cabelo

O cabelo é considerado uma matéria morta, porém precisa de estar sempre nutrido para não se deteriorar precocemente, alimento esse feito com um tipo de sebo naturalmente fabricado pelas glândulas sebáceas, em cuja composição química se encontra água sais minerais, óleos, gorduras, ceras, vitaminas A, D, E, e K, lipídeos, peptídeos (ligamento entre aminoácidos) e proteínas (agrupamentos de várias cadeias com mais de 100 aminoácidos).

Em sua estrutura, o cabelo tem a proteína queratina como seu principal tijolo que representa até 80% da massa capilar, ela é o alicerce do edifício chamado fio de cabelo. A água representa 10% da composição do cabelo, chegando a 30% quando molhado, pois os fios parecem esponjas e têm capacidade de absorver cerca de 30% do seu peso total.

Interessante salientar que os aminoácidos são como pedrinhas que juntas e em ligações chamadas peptídicas (como cimento), formam as proteínas (contêm mais de 100 aminoácidos variados ou do mesmo tipo, unidos entre si). Já os lipídeos, ou lipídios, são gordurinhas essenciais que servem como nutrientes de manutenção, pois são responsáveis por transportar certas vitaminas, dentre outros elementos químicos, e liberar calorias fundamentais paras a células. Os lipídeos são substâncias presentes em quase todo o corpo humano e geralmente são compostos de óleos, gorduras, ceras, fósforo, enxofre, vitaminas solúveis em gorduras etc.

Cabelos, peles e unhas, dentre outros órgãos, são formados pela queratina que é uma proteína estruturante, pela capacidade que essa proteína tem de se agrupar (polimerização), sendo ela composta por cerca de 20 tipos de aminoácidos multiplicados e aglomerados entre si. Uma vez produzida, a queratina é armazenada dentro dos bulbos pilosos, também chamados, bulbos capilares, que fica dentro do folículo piloso, e é a única matéria do cabelo que pode ser considerada viva. É dentro do folículo que os cabelos são criados. Dentro do fio e em sua superfície encontram-se os Lipídeos, do qual a gente já comentou acima, que no total representa aproximadamente 6% da massa capilar.

Em sua composição externa, o fio do cabelo possui várias camadas de massa proteica (composta de proteínas queratina), constituídas por células consideradas mortas. Elas são como lâminas e ficam sobrepostas umas às outras, formando assim as chamadas cutículas que, uma vez alinhadas, ficam iguais as escamas de peixe (lembram também um telhado). Essas escamas compõem-se em até 8 camadas subdivididas em 3 partes: uma região mais interna e mais resistente(Endocutícula); região intermediária e mais frágil(Exocutícula); uma fina membrana que envolve todas as escamas cuticulares(Epicutícula). As cutículas servem de proteção às partes internas do fio de cabelo formadas pelo córtex e a medula.

As cutículas são revestidas externamente por uma fina camada de lipídeos. Esses lipídeos, que formam uma espécie de película sobre as cutículas, têm função, dentre outras, de servirem como uma barreira lipídica para regular a entrada e saída de água, e ajudar, como já dito, no transporte de nutrientes.

A saúde das cutículas é refletida no brilho e sensorial das madeixas, na elasticidade e resistência dos fios (capacidade de se esticar e contrair sem o mesmo quebrar), com movimentos prazerosos e sedosos ao toque.

O córtex, logo abaixo das cutículas, possui cerca de 85 a 90% da massa capilar. O córtex é formado por aproximadamente 400 feixes de lâminas estruturais constituídas por principalmente a proteína queratina (65 a 95% da massa capilar é feita de queratina). Além dos lipídeos e queratina, está presente também dentro do córtex uma substância química chamada de melanina, responsável em dar cor aos cabelos. Os cabelos brancos são consequências de perdas da capacidade de o organismo fabricar melaninas (são fabricados por células chamadas melanócitos). As variações de cores dos fios também é particularidade de cada organismo humano em fabricar as melaninas do tipo eumelanina (do preto ao marrom) e feomelanina (cores mais claras). Tem muito a ver com a formação genética de cada indivíduo.

A medula, localizada bem no interior do fio, normalmente encontrada em fios mais grossos ou despigmentados (brancos), é responsável por distribuir nutrientes A medula é composta por também um empilhamento de células, formando também uma massa proteica constituída predominantemente pela proteína queratina. Na falta da medula, e sem prejuízos algum para os fios de cabelos, o vazio dela é preenchido por uma massa mais mole queratinosa, porém parecida e com as características do córtex, que assume as funções da medula.

Figura 1 – Ilustração de um Corte transversal de um fio de cabelo

Fonte: imagem retirada do google

 

1.2. Ligações Químicas que constroem o cabelo

1.2.1.   Forças que dão estruturas aos fios de cabelos

Os nutrientes armazenados nos bulbos pilosos (bulbos capilares), dentro dos folículos, são produzidos por reações químicas, também chamadas de bioquímicas, e são responsáveis por criar e manter as estruturas do fio de cabelo.  São os nutrientes que dão massa estrutural ao cabelo e a mantém, formando a medula ou o seu substituto, o córtex e as cutículas. Essas reações químicas se dão através de células e glândulas e armazenadas no folículo capilar. São reações entre aminoácidos, sais minerais, fósforo, vitaminas, ácidos graxos, água etc, dando formação aos lipídeos e também dando origem, através do agrupamento de moléculas, aos polipeptídios (tipo de ligação, chamadas pelos químicos de peptídicas, que mantém os aminoácidos unidos) e por consequência a formação das proteínas (molécula grande feita também por ligações peptídicas que promovem uma grade reunião de aminoácidos).

Um grande agrupamento de proteína queratina, que é o principal tijolinho que compõe o cabelo, vai montando assim as estruturas do fio. A queratina, composta de 20 aminoácidos, dentre eles o aminoácido Cisteína em maior quantidade, tem a propriedade de manter as estruturas tal qual foram criadas, fazendo ligações físico-químicas fortes entre elas mesmas, através da ligação entre do elemento químico enxofre presente na Cisteina. Como falado anteriormente os pigmentos (melaninas) estão presentes nesse caldo de reagentes químicos para dar cor aos fios de cabelo.

1.2.2.   Forças ou Ligações que unem o repulsam os fios de cabelos

Para que as estruturas dos fios fiquem mantidas e não se esfarelem facilmente, entram em ação, além das forças químicas das ligações peptídicas comentadas anteriormente e que acontece dentro da molécula, também estão presentes as forças de coesão, atração e de repulsão. As forças moleculares ao nível de estrutura capilar (que acontecem dentro do fio) já foi comentada acima. Agora vamos falar das forças que existem na superfície das fibras capilares.

São ligações iônicas e magnéticas (eletromagnéticas e eletrostática) na superfície do fio de cabelo.

A força magnética é um tipo de força que ocorre entre os corpos, sejam eles vivos ou apenas objetos, e atua mesmo que estes não estejam em contato totalmente.  Lembra a força gravitacional, que mantém a gente grudado na terra e não saia voando por aí.  Outro exemplo de atração ou repulsão:  produzidas pelo imã.  É através das forças magnéticas que ocorrem as também chamadas forças elétricas. Outro exemplo prático para você perceber uma força magnética. Pegue uma caneta de plástico e um pedacinho bem pequeno de papel. Esfregue o corpo da caneta no cabelo seco e depois aproxime o corpo da caneta ao pedacinho de papel, sem tocar nele. Você vai observar que o papel será atraído pela caneta. Isto prova que seu cabelo está carregado de cargas eletromagnéticas.

São forças que ocorrem entre as moléculas que compõem as estruturas capilar, pois elas estão carregadas de cargas elétricas, podendo ser chamadas também de cargas iônicas. Ocorre um verdadeiro frisson entre os elétrons que ficam girando na superfície das moléculas sem parar. Cargas iônicas significam e as molécula têm em sua extremidade o polo positivo e o negativo. Lembre-se, positivo atrai negativo (vice-versa) e polos idênticos (positivo com positivo ou negativo com negativo) provocam uma repulsão, não se bicam.

Uma curiosidade: quando as ligações mais fortes, que acontecem na superfície do cabelo, são rompidas, o cabelo fica parecendo um plástico quente, todo molengo, pode ser moldado, em princípio, para ficar liso ou cacheado. Porém, como se era de esperar, uma vez endurecidos novamente, ficam mais frágeis. Se a gente pegar um fio virgem (que nunca sofreu um tratamento químico) verá que ele tem elasticidade e resistência (se alonga com certa facilidade e volta ao seu estado normal como se fosse um elástico e não quebra). O mesmo não acontece com um fio que já tenha sofrido o tratamento de relaxamento.

Outro fato importante é quando se usa substâncias muito alcalinas (pH acima de 10) ou muito ácidas (pH abaixo de 2), principalmente quando deixa elas agirem por um tempo longo. Não somente as ligações que acontecem na superfície do cabelo são rompidas como também as ligações químicas que dão a estrutura ao cabelo são danificadas. Neste caso, os cabelos podem simplesmente se desintegrarem em danos irreversíveis.

1.2.3.   Ligações Fracas

Que são rompidas facilmente pela simples presença da água, quando o cabelo é umedecido. Por isso os cabelos ficam com o aspecto escorridos, até crescem um pouco mais, quando estão molhados. São chamadas pelos químicos de ligações Ponte de Hidrogênio.

1.2.4.   Ligações Médias

São mais resistentes e só podem ser quebradas quando usamos produtos alcalinos (pH alto, acima de 10) ou ácido (abaixo de 2). Os químicos chamam essas ligações de iônicas. Porém elas também acontecem quando são feitos os processos de alisamentos gradual ou progressivo, usando substância ácida, uso de prancha quente e ingredientes químicos (chamados termo ativados) para fazer uma filmagem (película sobre os fios que blindam os mesmos contra a umidade do tempo) e mantê-los mais tempo possível esticados.

1.2.5.   Ligações Fortes

São chamadas de Ligações de Enxofre, ocorridas entre os enxofres da Cisteína (principal aminoácido que compõe a proteína queratina e são carregados de cargas elétricas), que acontece entre as fibras paralelas do cabelo (aquelas que estão presentes na superfície dos fios, mais em suas extremidades).

Essas Pontes de Enxofre são rompidas em tratamentos químicos de elevado pH (acima de 10). Como também em pH baixo (abaixo de 2), se não tiver cuidado e experiência nesses tratamentos, o cabelo pode sofre danos irreparáveis.

1.3. O que faz o cabelo ser curvo ou liso?

Pergunta de um milhão de dólares. O que a ligações vistas anteriormenta tem a ver mais objetivamente com os cabelos?

São essas forças (ligações) que mantém os fios com sua estrutura original (não sejam totalmente arrepiados, por exemplo), que dão charme aos fios, unindo-os ou separando-os, tornando eles macios, lisos ou cacheados, com movimentos e sem o frizz.

Agora que já sabemos um pouquinho de ligações químicas, vamos falar, podemos concluir que essas ligações são responsáveis em dar o formato de liso, cacheado ou crespo aos cabelos. Interagem com as camadas mais externas das fibras do cabelo de modo que na sua fase de crescimento, seja provocado as mais diversas curvaturas do fio, encurvando ou não a haste do córtex (dá para gente exemplificar fazendo uma analogia aos galhos de uma árvore).

Figura 2 – Ilustração de um desenho do Fio de Cabelos e as ligações que o mantém na curvatura inicial.

Na figura acima está ilustrada a ligação de sulfeto ocorridas no córtex (-S-S-), mais difícil de ser rompida, é responsável por manter a estrutura do fio do cabelo. Imaginemos que ao ser feito o fio de cabelo, ao redor da queratina ficam ainda carregada e cheia de energia. Essa energia liberada entre as moléculas faz com que haja uma interferência na forma de crescimento do fio; ou seja; se este será liso ou cacheado. Essas ligações químicas, chamadas também de pontes de dissulfeto, têm então a função de unir as extremidades das proteínas e dar o formato ao fio do cabelo. Quanto maior é o número dessas ligações no córtex maior será a sua curvatura e, portanto, a curva do fio.

Gente! São essas ligações que são rompidas somente quando atacadas por ingredientes muito alcalinos (pH alto), por exemplo: hidróxidos de guanidina, sódio, lítio e amônio. Uma vez rompida, não volta mais ao seu formato original. A haste do fio fica amolecida e pode ser manipulada para deixar o fio reto e, em alguns casos, mais curvo com o auxílio de bigoudis. Esses fios tratados quimicamente não podem sofrer novos ataques químicos com risco de serem quebrados.

É fácil entender que quanto mais curvatura tem o fio, maior também é a dificuldade de os nutrientes, armazenados no bulbo capilar, percorrerem da raiz às pontas e assim fazer a hidratação todo do fio. Por isso, os cabelos encaracolados geralmente são oleosos na raiz e secos nas pontas.

Por outro lado, as ligações por nome de Wan der Wals (-CH-CH-), pontes de hidrogênio (-O…OH-) e a iônica ( H+ -OH), são ligações mais fracas e reversíveis. Por exemplo, se a gente fizer a secagem dos cabelos com uma escovação a quente, as forças de Wan der Wals e pontes de hidrogênios serão quebradas e os fios alisados. Porém, com o passar do tempo e a umidade do clima agindo no cabelo, essas ligações retornam e os fios voltam ao formato original. No caso das escovas progressivas, que contêm substâncias ácidas (ácido glioxílico, carbocisteína etc), ou seja, com pH maior do que 2, as pontes iônicas também são rompidas e as cutículas bem amolecidas e seladas. Nesse momento é possível alisar os fios com uma duração mais longa do que as escovas gradativas que normalmente só atuam nas ligações de pontes de hidrogênio e Wan der Wals.

1.4. Por que os fios de cabelos caem?

Você sabia que caem de nossas cabeças quase 100 mil fios de cabelos por dia? Em média o fio de cabelo é substituído a cada três anos. Ainda bem que a gente possui aproximadamente 150.000 fios na cabeça e não damos falta de nenhum deles. É natural que com a idade a gente comece a notar a falta de alguns deles. São mudanças normais que acontecem na fase infantil, adolescente, juventude e maturidade. Com o tempo, esses mecanismos biológicos vão se enfraquecendo e os cabelos também. Ficam mais finos com a idade e caem com mais facilidade.

Existem resumidamente dois tipos de quedas, a “Cicatricial” e a “Não Cicatricial”. No caso da queda cicatricial, o bulbo capilar conserva as suas propriedades para armazenar nutrientes e facilitar a geração de um novo fio. Há casos denominados de queda não cicatricial em que o bulbo sofre uma degeneração ou dano, causando a alopecia (redução parcial ou total de cabelos em uma área do couro cabeludo).

Biologicamente os nossos cabelos sofrem com o tempo uma degeneração celular o que provoca desarranjos naturais na formação das substâncias que o mantém saudável e com isso suas estruturas são enfraquecidas. Com a idade os cabelos perdem a capacidade de se reproduzir. Os fios ficam mais finos, se quebram, caem e são substituídos por outros novos, numa velocidade mais lenta, própria da idade do indivíduo. Os fios são formados dentro dos bulbos capilares, parecidos com o ventre das mulheres na fase de gestação de um filho e têm três fases em sua vida: Crescimento, Repouso e Queda.

  1. Crescimento que é chamado de “anagena”; o fio de cabelo cresce durante dois a sete anos. Em média três anos.
  2. Repouso, também conhecido por “catágena”, depois de crescido o fio de cabelo fica em sua cabeça entre dois a quatro meses. Pouquinho né? Às vezes dura menos desse tempo por exposição a tratamentos químicos durante seu embelezamento.
  3. Queda, denominada como “telógena”. Depois do repouso o fio cai dando lugar para um novo fio em crescimento.

Podem ocorrer quedas de cabelos temporário que são as originadas por desarranjos metabólicos momentâneos do corpo que refletem na formação dos cabelos; doenças em geral, níveis hormonais alterados durante a gestação ou, mais comum, após o bebê nascer, depressão psicológica, stress etc.

 

No próximo artigo vamos falar um pouco sobre o dano capilar. Você vai poder compreender o que é um Cabelo Danificado e por que eles ficam assim. Até lá!